Eu sou um fã de longa data de Star Wars, de quando o nome ainda era Guerra nas Estrelas. Como muita gente na minha idade, me interessei pela franquia com o frenesi da trilogia I, II e III, para depois ir atrás e me apaixonar pelos filmes originais.
O que é contraditório para mim, sim. A estrutura básica de jornada do herói, com um escolhido resolvendo o problema da galáxia, é um tropo que já falei por aqui que não gosto muito. Porém, Star Wars tem uma proposta um pouco mais consistente, que só vi de novo com o mesmo entusiasmo em Jogos Vorazes (me coloco no direito de não elaborar a comparação). A ideia de que o tiro de Luke na Estrela da Morte tenha sido o golpe fatal de uma luta há muito tempo iniciada, travada por milhares, talvez milhões de pessoas é incrível. E ela se perdem BASTANTE nos últimos anos.
Tornando a imaginação opaca
Infelizmente, embora eu goste muito de acompanhar tudo desse mundo, os novos conteúdos de Star Wars que assisti diluíram constantemente o brilho dos episódios IV, V e VI. Por diversos motivos (que tal uma insinuação de gravidez da força???), mas principalmente porque noção da Aliança Rebelde era enfraquecida a cada nova obra.
Destino, nepotismo Jedi, planos mirabolantes do mal, um número crescente de lightsabers girando por aí, tudo isso tirou o poder do esforço coletivo pela revolução para colocar a salvação do universo na mão de poucas pessoas iluminadas.
Isso funcionava no episódio IV pela limitação de informações. Tínhamos pistas do que acontecia em volta da jornada de Luke e nossas imaginações completavam o resto. Talvez, tenha sido essas lacunas que geraram tanto interesse do próprio público em expandir o universo.
Entre filmes e séries, muitas das obras seguintes acabaram com essa graça. Dando respostas insuficientes, enfraqueceram a Aliança Rebelde ao mesmo tempo em que tiravam de nós a possibilidade de criar nossos próprios universos. Midi-chlorians mostravam que a força estava ali apenas para quem era mais capaz, nunca para quem realmente precisava dela.
Mas então, em 2016, surgiu um filme de Star Wars que pela primeira vez escapou da armadilha dos guerreiros predestinados. Rogue One é a história de um grupo de rebeldes em uma missão totalmente acima de suas capacidades mágicas. Sem sabres de luz, sem usar a força para jogar pedrinhas (imagina ter que usar as próprias mãos para jogar uma pedra!).
Se Rogue One não é o meu filme preferido da franquia, ele está empatado com os originais. Exatamente por mostrar que a revolução que permitiu Luke destruir duas Estrelas da Morte não seria possível só com um herói de espada brilhante. Era preciso de pessoas organizadas e que acreditavam que a mudança era possível, o suficiente para sacrificar a própria vida por apenas um mapa. Um mapa que transformaria a galáxia.
Entre 2016 e 2022, foram seis anos de tristeza. Principalmente o Episódio IX, que transformou toda a rebelião em um plano de vilão de desenho. Algo como: “HA HA HA, eu DEIXEI vocês ganharem aquela vez para eu ganhar agora”.
Quanto mais a história avançava, menos importância a Aliança Rebelde tinha. Era apenas plano de fundo para a balada gótica que viravam as lutas de lightsaber. Todo o sacrifício em Rogue One se resumia a quem tinha mais força. Literalmente.
Recuperando o brilho da Rebelião
Felizmente, parece que ainda tem alguém lá dentro da Dinsey que se importa com o significado do que não foi mostrado na trilogia original. Que ainda entende que o embate dos Jedi por si só não é interessante se ele não carregar o peso de milhões, bilhões de vidas nas costas. O que é a verdade quando a gente pensa um pouco sobre a explosão de Alderaan e por que isso aconteceu, mesmo que não esteja explícito em detalhes no roteiro.
Andor talvez tenha sido o conteúdo de Star Wars mais esquisito a ser anunciado. Uma série sem Jedis, em que o protagonista seria o sidekick de Jyn Erso em Rogue One. Como isso poderia dar certo?
Depois de assistir seus 12 episódios, entendi que é exatamente essa estranheza que faz Andor recuperar o brilho dos filmes originais.
A série mostra o início da organização dos rebeldes, antes de serem ainda uma aliança. Em uma trama muito bem interligada, consegue passar pelos esforços em diferentes frentes que fazem uma revolução acontecer: do lado financeiro, do lado filosófico e do lado ativista.
São partes que se tornam um todo com o tempo, mas que precisam de um imenso esforço para se encontrarem. Revoluções são como um jogo de ligar os pontos que nasce sem que se perceba. A princípio, são tão poucos deles que é impossível imaginar que há uma imagem ali. Ela então cresce na busca de novos pontos no escuro, um a um. Com o tempo, estão em um número tão grande e tão próximos que podem finalmente ser conectados para formar o desenho, quando já são uma força grande demais para ser parada.
A série mostra exatamente esse processo. Como é dito no último episódio, “O menor ato de insurreição empurra nossas linhas para frente”. Cada ação conta, não apenas por serem um pequeno ponto de rebeldia, mas por fazer surgir outros em volta.
Quando Maarva faz sua própria eologia, talvez o melhor momento de toda a série, ela diz que quer inspirar o povo de Ferix não para ser lembrada, mas para que quem fica após a sua morte continue. Para que a ideia continue.
Foi nessa cena que ficou claro para mim: Andor, apoiado por Rogue One, recupera o brilho dos Episódios IV, V e VI. Demonstra que uma revolução não é feita de heróis, mas de pessoas organizadas e com um ideal em comum. São estas as corajosas de verdade. E é pelo esforço delas que os heróis surgem, não o contrário.
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