Como eu (não) lido com rejeições

Pernalonga falando no.


O meio da literatura é um dos poucos em que a rejeição é tão frequente a ponto de se tornar parte do trabalho. Pergunte a qualquer escritor famoso ou não e você vai ouvir o mesmo conselho sempre: acostume-se a receber nãos.

Às vezes, o não vem com um feedback super coerente sobre como a obra não se encaixa, ou os pontos que não atingiram o padrão que se espera de uma seleção. Às vezes, é só um "flw vlw". Muitas mais vezes do que eu gostaria, nem resposta há, apenas uma eterna esperança que esfria aos poucos e a luz se apaga como a entropia da energia que se dissipa no universo (ok, muito dramático).

A questão é que a rejeição geralmente é mais comum do que a aceitação. A indiferença é mais comum que o reconhecimento. E na maioria das vezes bate um sentimento de "Será que eu só não sou bom o suficiente? Será que eu deveria desistir?".

Se você que lê isto escreve, não é nenhuma novidade o que eu estou falando. Se não é, conhece as histórias. A rejeição é a regra. Então por que uma pessoa que lida tão mal com rejeições como eu continua insistindo? Pois é, o humano é um bicho muito estranho.

O humano é um bicho muito estranho

Eu tenho todas as características de insegurança que qualquer pessoa com ansiedade sabe definir bem. Uma delas, muito presente, é deixar de fazer algo simplesmente pela possibilidade do erro, por menor que seja. Se eu sou tão autoconsciente dos meus defeitos, eu não quero o mundo externo apontando para eles. Vou me cobrar 100 vezes mais se vier de fora.

É óbvio que isso impacta quando eu tenho um texto rejeitado. A minha primeira reação é sempre de desistir de tudo, como se aquilo fosse uma validação de que é inútil continuar tentando.

Infelizmente, eu não sou das pessoas que conseguem olhar para algo que fez e reconhecer os erros. Na verdade eu nem olho. O Espectro de Iks, um livro que hoje gosto muito, demorei 5 anos para conseguir voltar a ele. A mesma coisa com diversos outros textos.

Minha abordagem diante da rejeição geralmente é tentar algo novo. É construir uma casa com o telhado errado e, em vez de arrumar as telhas, demolir e começar do zero.

Ou seja, eu não lido com ela, eu a jogo fora.

Eu demorei alguns (muitos) anos para perceber o quanto isso não é exatamente saudável. É porque a princípio parece algo bom: estou me dispondo a ser melhor do que antes e sempre melhorar.

Mas no fundo, isso é um problema. Lidar com a rejeição, entender por que ela pode ter acontecido e, quando possível, completar o que ficou incompleto — esse processo tem uma relevância muito maior do que pensamos.

A ideia de que temos que ser sempre melhores do que já fomos nos faz, muitas vezes abandonar o que já foi feito. É uma forma de nos rejeitarmos também. Afinal, quem fez aquele texto que ninguém quis fui eu. Em algum momento ele fez parte de mim, antes de ser materializado.

Será que eu preciso me jogar fora todas as vezes?


Sim, eu tentei dar uma lustrada para parecer um post de blog interessante, mas na maior parte do tempo fui eu falando comigo mesmo. Desculpa avisar só no final.





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