Já parou para pensar no quão rápido a gente tem que se expressar? Eu preciso de uma resposta engraçadinha para um tuíte antes que venha uma enxurrada de replies. Eu visualizei a mensagem, agora tenho que pensar em algo charmoso para dizer antes que achem que estou ignorando, mas bom o suficiente para me acharem legal. Eu preciso fazer um post aqui sobre algo muito rápido por que do contrário todo mundo vai me esquecer.
Olha aí meu medo: todo mundo vai me esquecer.
Quando eu comecei a produzir textos opinativos eu tinha uma ideia bem simples. Vou jogar umas coisas, talvez assistir outras, ler uns negócios. Aí eu falo sobre o que senti, o que achei ou o que aquilo me fez pensar.
Todo mundo que começa blog é ingênuo desse jeito? A gente pensa que pra produzir conteúdo é dois palitos. Mas aí falta assunto a primeira vez e esse cantinho na internet vira a coisa mais aterrorizante que você já viu.
O problema é que me expressar não é muito fácil nem rápido. Dói, às vezes fisicamente. Já cheguei a comentar sobre um roteiro que estou tentando fazer para um jogo que era um projetinho de tempo livre e virou uma auto-tortura pela simples razão de eu ter ousado usá-lo como forma de expressão.
Eu poderia dar alguns outros exemplos, mas eles nunca vão ver a luz do Sol. Para os dois livros que tive coragem de publicar, tem mais pelo menos quatro inteiros escritos que não tenho coragem nem de reler.
O ato masoquista de compartilhar
Pensando mais sobre isso, talvez este texto seja uma continuação do último que publiquei. Isso acontece quando você não consegue concluir seus pensamentos, eles ficam no banco de trás o tempo todo perguntando se a gente já chegou em algum lugar.Não, eu não sei quando e se a gente chega! E SE PERGUNTAR DE NOVO EU PARO ESSE CARRO E DESCE TODO MUNDO!
A verdade é que todo mundo quer compartilhar o que está pensando em algum momento. É da natureza humana, sei lá. Então sentimos impelidos a fazer isso o tempo todo, mesmo que o medo bata e a dor venha.
A forma varia muito. Algumas pessoas gostam de escrever (como eu), outras desenhar, outras cantar, outras apenas conversar sobre o assunto com outra pessoa. Não tem regra nem cobrança.
Por que nós colocamos em nós mesmos esse peso, então? Nós gostamos de sofrer?
Quer dizer, se o ser humano não tivesse uma relação no mínimo de fascínio pela dor, seria inviável como espécie. A vida dói muito, já percebeu?
Mas, além dessa necessidade dolorida de fazer o que estou fazendo agora (escrevendo este texto), nós criamos outra armadilha na urgência e obrigação de ter personalidade e expressão o tempo todo. É o nosso Personal Branding — eu gosto como toda coisa para aumentar nossa ansiedade geral vem sempre em inglês.
A minha marca é sofrer
Eu sempre pensei muito na minha Personal Branding desde que comecei a me expressar por palavras e tentar transformar isso em carreira. Qual é a minha marca? Qual estilo eu me encaixo melhor? Como eu encontro um público? O que eu quero expressar?É engraçado porque ao mesmo tempo em que eu penso “vou escrever só para mim e o resto é consequência”, a consequência está na minha cabeça desde que eu precisei pensar nisso.
Uma das minhas tentativas constantes é na poesia. Primeiro porque eu gosto muito de brincar com o som das palavras, certo, mas também porque é uma ideia de um material consistente que eu consiga produzir com velocidade.
Afinal, quem produz conteúdo tem que produzir o tempo todo. Essa é a sensação que fica em nós. Responder rápido, achar a punchline sem ligar para o setup — viu como só de botar palavra em inglês a ansiedade sobe?
Eu não sei se sou assim. Entre escrever um livro e ter coragem de publicar, minha média atual é de 4 anos. Entre eu querer falar sobre um assunto e realmente falar, ele já morreu.
Aliás, este texto aqui é pauta fria, tá vendo?
Eu tenho dificuldade em assumir essa letra sofrente que sou e cantar “a minha marca é sofrer”. Talvez se eu soubesse compor músicas seria uma boa. Mas aí você não pode mais demorar dois anos para um álbum completo, tem que soltar um single por mês. Palavra em inglês, ansiedade subindo.
O ato de escrever demora bastante. A procrastinação não ajuda. A dor às vezes faz a gente querer ficar num canto, sem se expressar, só respirando. Precisa de muito trabalho para conseguir respirar direito. Tem até curso para isso.
Como eu vou resolver isso? Eu não sei porque outra vez não sei como concluir uma ideia. Mas talvez assumir que vai doer e que está tudo bem assim é um primeiro passo. E assumir que a dor pode ser ainda maior quando um texto ou uma ideia termina no vácuo, sem a resposta que eu esperava. Faz parte da gente.
Eu posso sofrer também, eu sou humano. Se nada der certo, que eu pelo menos chegue a algum lugar. Ou eu arrume um jeito de distrair essas ideias no banco de trás.
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