A mente da gente em uma história diferente

 

Raz segurando um cérebro em imagem de Psychonauts 2

Recentemente, estava eu jogando a sequência de um dos jogos que mais me impactaram ali no início dos anos 2010 (meu deus já faz dez anos!). Psychonauts é uma história sobre agentes que entram na mente de pessoas para encontrar a origem de algum conflito interno que esteja causando um comportamento prejudicial a ela mesma e outros a sua volta, o que se torna o fio condutor da história que contam.

Physchonauts 2, de 2021, é um jogo melhor em todos os sentidos. Não só pelo que a tecnologia evoluiu em 15 anos (o original é de 2005), mas pelo avanço também de como abordamos pessoas neuroatípicas e os caminhos mais saudáveis para lidar com essas questões.

Mas eu não vim aqui te dá spoiler e nem achar que tenho alguma propriedade para falar sobre psicologia e psiquiatria. O que me motivou a fazer esta reflexão foi analisar a forma como a Double Fine realizou visualmente e mecanicamente o que seria a psique de uma pessoa e como suas experiências e conflitos internos moldam esse cenário.

O tipo de coisa que me faz pensar em escrever algo do tipo, mesmo eu não tendo nenhuma ideia de história sobre heists em mentes. Quem sabe um dia.

Se você para pra pensar, nossa mente não tem forma

Quando começamos a analisar como uma mente humana é representada na ficção, seja qual for o formato, encontramos várias semelhanças. Geralmente, é um ambiente fechado e construído, como um quarto, uma casa. Ou é uma representação fantástica de um tema, geralmente relacionado a algum trauma sendo trabalhado na trama (olha que jogo de palavra bem feito!) ou um momento marcante da vida dessa pessoa. Elementos, set pieces, personagens, tudo segue esse tema central. É, inclusive, o caso de Psychonauts.

Existem outras possibilidades. Talvez a representação de sonhos seja o mais comum na ficção. Quantas vezes você já não leu, assistiu, ouviu a história de alguém que entrava em um ambiente específico de sua vida, as coisas ficavam bem surreais e ela acordava e era tudo um sonho.

Eu sou o primeiro a levantar a mão de culpado aqui.

Mas acho que dá para dizer que tudo isso são construtos de conceitos impostos sobre o que é a mente de fato. Eles vem de muito tempo atrás, na própria evolução da medicina e do entendimento de como ela funciona. Sempre falamos em caixinhas, gavetinhas, portas, chaves, mapas, ou seja, tentando dar uma lógica espacial aos nossos pensamentos.

Só que, se analisamos biologicamente como a mente funciona, ela está longe de seguir a mesma lógica do mundo fora do nosso corpo. No máximo, apropria-se do que ela absorve por meio de nossos sentidos para montar imagens compreensíveis no consciente.

(De novo, estou falando tudo isso de impressão pessoal e provavelmente muita coisa poderia e deveria ser contestada por alguém capacitado)

Eu só estava levantando esses pontos comigo mesmo para perceber o quanto é difícil descrever o interior de uma mente em uma peça de ficção, seja qual for o formato. Como manter a desconexão e falta de linearidade da nossa cabeça, que pula de um assunto para outro em frações de segundo e volta para o atual sem que a gente mal perceba. Psychonauts faz muito bem isso, como outras obras, mas será que tem como fugir desse padrão?

A vontade de experimentar outras abordagens

A primeira coisa que fiz quando terminei Psychonauts foi tentar encontrar histórias que falam da nossa mente sem usar exclusivamente, ou na maior parte, esses mesmos mecanismos de trama. Que consiga captar como um consciente se forma, sendo que o que temos de referência é apenas uma pós-produção do cérebro para que você tenha um mínimo de suspensão de descrença e perceba o caos completo que é aí dentro (ou será que sou só eu? Pera, será que sou só eu?).

Ainda não tive sucesso em achar algo mais nesse sentido. Inclusive aceito sempre sugestões lá no twitter (@pepperputz). Mesmo assim, ainda fiquei tentando imaginar como seria essa história, uma que se passasse dentro da mente de uma pessoa, mas que não a tratasse como a projeção de um ambiente físico. Que não refletisse os monstros que temos guardados como monstros literais ou que não apresentasse obstáculos como muros literais. Como seria esse tipo de história?

Talvez seja impossível, mas vou continuar nessa linha. Talvez eu comece a falar só coisas sem sentido daqui um tempo. Talvez eu ache super revolucionária a história sem pé nem cabeça que ninguém lê. Muitos escritores fazem isso, hein. O único medo é me perder lá dentro e não conseguir sair mais porque eu tirei qualquer referencial para me guiar tentando ser diferentão. Ah, quantas possibilidades a mente nos traz!





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