O ciclo sem fim, o fim de um ciclo

Cena de o Rei Leão

Eu encaro a época de aniversário como todo mundo encara: uma gota de esperança em um mar de desespero. Você sabe como. Eu não tenho nada de diferente para falar sobre e nem posso adicionar algum ponto de vista novo na sua vida.

Mas sabe como é, gerar conteúdo e tal. E por algum motivo eu preciso falar sobre isso agora. Tem que ser agora. Então, vamos ver o que sai. Vamos?

Vamos.

Desde que o Simba é Simba

O ciclo sem fim do Rei Leão sempre me deixou meio ansioso. Você já parou para pensar na letra? Ela basicamente diz que há muitos caminhos para seguir e muitas coisas para fazer, mas não existe tempo o suficiente para tudo.

Aí você espera por uma realização, uma lição no fim da letra. Mas não tem. É só isso mesmo. Milhões de possibilidades, você vai encontrar um lugar para você nelas e é isso.

Ciclos parecem uma coisa muito importante para o universo, como se o universo tivesse uma compulsão por eles. Tudo gira em volta de tudo. Tudo tem tempo para começar, acabar e começar de novo.

Mas nós não. Num macro, a própria humanidade é cíclica. No micro, aprendemos que temos que achar nosso lugar no ciclo antes que seja tarde demais.

É aí que entra a data do aniversário.

Simba de uma nota só

Fazer aniversário é, antes de tudo um marco do tempo que passa. Se no ano novo a gente tem uma noção geral do tempo, no nosso dia a gente tem a sensação real dele atravessando nosso corpo.

E a partir daí vem ansiedade, desespero, uma vontadezinha de se encolher no canto do quarto. E todo mundo faz as piadas relevantes para a idade atual e ri de nervoso. Eu, você, seu tio. Todo mundo.

Entra ano, sai ano e a história não muda porque a ideia do ciclo sem fim está sempre lá. Muita coisa para fazer. Pouco tempo. Pouco dinheiro. Pouca vontade.

Mas será que não dá para mudar um pouco essa ideia?

Eu tenho que fazer as pazes comigo mesmo sempre que essa época chega. É preciso um pouco mais do que lógica para tirar a ideia negativa do ciclo da cabeça porque ela é muito mais profunda do que isso.

Na manhã do meu aniversário, estava pensando especificamente em pizzas. Nós íamos comer uma no fim do dia. É daqueles momentos que todo mundo tem aleatoriamente de ficar espantado quantos sabores existem. Salgadas, doces, as duas coisas, com estrogonofe e sushi dependendo da sua ousadia.

Eu fiquei me imaginando entrar em uma pizzaria, olhar o cardápio de 7 páginas mal diagramadas e ficar ansioso porque não conseguiria comer todas.

Por que eu não fico? Bom, é uma mistura do que eu sei que quero e o que eu imagino que quero. É uma combinação de experiências com senso de experimentação.

Como em toda pizzaria, na nossa vida a gente também funciona assim. Nós sabemos o que queremos. Mais importante, o que não queremos.

E então, baseado nisso, sabemos os riscos que valem a pena, nos dividimos entre o certo e a aposta viável, quais caminhos são mais interessantes de explorar a partir de como queremos evoluir como pessoas.

Ou seja, infinitas possibilidades não importam. Ficar triste pelo caminho que você nunca sequer vai tentar não é tão produtivo assim. O ciclo tem fim, mas tem muito espaço dentro dele para o que você realmente quer experimentar.

Pensar assim me dá mais tempo para focar no que me faz feliz, não em quantos ciclos estou cumprindo dentro da grande roda do universo. Eu fico menos ansioso crescendo aos poucos. Trabalhando os pequenos objetivos primeiro.

Não deixa o Simba morrer, não deixa o Simba acabar

Este texto é basicamente filosofia barata de boteco, eu também já percebi isso. Mas os ciclos não vão parar, ano que vem tem outro aniversário. Envelhecer faz parte do jogo.

Então, para aguentar essa repetição que não acaba tão cedo (espero), eu acabei pensando em uma listinha para rebater tudo o que aprendi até hoje por osmose na sociedade:
  • eu posso mudar de ideia ou objetivo quando quiser;
  • eu posso não ter qualquer objetivo quando for conveniente ou reconfortante;
  • um ano é só mais um ano, e tem muito dia dentro de um ano;
  • não adianta prometer que este ano vai ser diferente, por que não vai — embora de certa forma sempre seja;
  • meu tio falou que estou ficando velho porque reconhece que ele também está;
  • tá tudo bem ter medo;
  • tá tudo bem ter esperança;
  • as pessoas que se importam estarão lá, envelhecendo comigo;
  • talvez eu até me torne com o tempo uma companhia mais agradável para mim mesmo;
  • experimentar mais sabores de pizza que os outros não me faz melhor, apenas mais indeciso;
  • pizza é sempre bom, não importa a ocasião;
  • abacaxi na pizza vale sim, ainda mais quentinho com queijo e figo;
  • é isso mesmo que você leu;
  • borda com recheio já é demais, falta foco;
  • pizza no palito fica mais gostosa em mesa de plástico;
  • com ou sem ketchup, você tempera a vida como quiser;
  • pizza.

Sim, o último item na lista é só a palavra pizza. E infelizmente eu não tenho nenhuma lição em particular ou realização para compartilhar depois de pensar tanto sobre meu aniversário.

Mas, ei, o Elton John deixou o ciclo dele aberto, por que eu fecharia o meu?



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