Renato Russo me enganou

Pessoa lendo um livro eletrônico


Lá vou eu de novo escrever sobre qualquer coisa. Talvez se eu perdesse essa mania ganhasse mais dinheiro. Mas eu vou fazer o quê, se este é o único jeito que eu conheço de me expressar?

Sim, o texto de hoje é um desabafo e uma reflexão. Uma desblefexão. Um reflesabafo. Um… algo. Um algo.

Hoje eu pretendo ser mais rápido então nem subtítulos vai ter. É uma ideia que vem reajustando expectativas ultimamente e me pareceu um pouquinho maior do que o que cabe num tuíte.

É eu tentei só tuitar, mas caramba eu não consigo que ódio!

Então, eu estou lendo um livro que encontrei meio por acaso em resenhas por aí. Uma ficção científica sem lasers, sem batalhas, sem naves explodindo (até agora, pelo menos), com personagens incríveis em uma nave perfuradora de túneis no espaço. O livro se chama “A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil” e eu estou amando.

Eu sempre devorei os livros que amo. O Senhor dos Anéis, quando eu li lá na minha adolescência , foram lidos em:


  • 1 mês para o A Sociedade do Anel;
  • 1 semana para o As Duas Torres;
  • 2 dias para O Retorno do Rei.


Esse é um bom exemplo para a relação direta entre aumento do interesse e velocidade de leitura. A mesma coisa aconteceu com vários livros na minha vida em momentos bem distintos e distantes uns dos outros.

Bem, eu estou agora amando o livro da Becky Chambers e mesmo assim estou há 2 meses nessa longa viagem.

Eu.

Não.

Termino.

Nunca.

O que tem de errado comigo?

É a mesma coisa que há de errado com todo mundo: falta tempo, falta força, falta ânimo. Há tantos anos ouço o velho “ninguém mais lê”, mas isso não é verdade. Nós lemos como nunca, mas é difícil se comprometer a ler algo que pode durar muito tempo e exigir muita atenção quando tudo o que a sociedade pede de nós é que nunca baixemos os olhos e a guarda.

Quem sabe Renato Russo não estivesse errado esse tempo todo. Não temos nosso próprio tempo. Nós conseguimos manter um pouco dele em troca de dar o resto como em uma sociedade feudal.

Toda semana surge uma série nova, um jogo novo. Todo dia surge uma nova discussão. Quem não encontra o vigor físico ou a tranquilidade mental para ignorar esses chamados acaba sendo levado correnteza abaixo.

Eu mal consigo ficar com o nariz para fora da água.

O paradoxo do escritor que não lê


Ah, achou que não teria subtítulo! Subtítulos são ótimas formas de dar escaneabilidade ao conteúdo. Além de o leitor correr pelo assunto mais rápido, eles dão a impressão de que o texto é mais curto do que realmente é.

Enfim, foi pensando nisso que eu caí num paradoxo. Eu não tenho o tempo nem as forças para ler tanto quanto gostaria, mas o que eu faço depende de que outras pessoas tenham.

Os livros que escrevi e publiquei de forma independente me deixam muito ansioso nesse sentido. Algumas pessoas leram, gostaram mais ou menos da história, de personagens, de ritmo. Eu adoro cada uma delas por isso.

Mas de qualquer forma são poucos leitores para que eu tenha uma noção real da resposta a algo que eu fiz. Imagina você criar algo em 2014 e não saber ainda em 2020 se aquilo é realmente bom — comercialmente, artisticamente ou até no êxito em passar uma mensagem.

É agoniante, é sem saída. Levando em conta a minha dificuldade de ler um livro de 400 páginas, como eu posso pedir para alguém ter essa disposição por minha causa? Leituras críticas funcionam, mas às vezes você só quer uma opinião menos profissional.

A minha busca atualmente é por explorar outros modelos: histórias mais curtas, talvez episódicas. Acho que é o que restou para mim. Penso que seja a minha hora de me adaptar a minha própria rotina. Eu não tenho tempo, como vou ter coragem de exigir o tempo dos outros?

Provavelmente você agora está aí dizendo “ain então faz outra coisa”. Eu não quero fazer outra coisa. Eu não consigo não fazer isto aqui. Se eu fizesse por dinheiro já tinha parado há muito tempo.

Infelizmente é assim. Mesmo que seja a causa de instabilidade, de ansiedade, de expectativas perdidas. O planeta é hostil e a viagem é longa.



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