O problemation do nosso valuation

Tubarões nadando

Eu estou nervoso da mesma forma como sempre fiquei com apresentações em geral. Como se não existisse vida do outro lado, como se meu coração a 120 fosse bater de cara com um muro.

Mesmo assim eu sorrio. Estou conversando com um jovem de suspensórios. Se eu não sorrir, vou fazer o quê? Eu sorrio e sigo em frente, pelo chão de TVs e pela porta cenográfica.

Lá dentro, quatro tubarões perguntam sobre o que eu tenho a oferecer. Eu olho para baixo. O que eu tenho a oferecer? Tem como calcular o que uma pessoa pode oferecer universalmente?

Eles perguntam sobre minha perspectiva de crescimento. Eu digo que nenhuma. Perguntam sobre o faturamento e eu balanço a cabeça como quem diz “mais ou menos”.

— E qual é seu valuation?

Eu tento pensar um pouco sobre a questão. Fazer contas. É a hora que desisto. Eu agradeço a disposição de todos, viro as costas e vou embora. A última coisa que as câmeras captam de mim é um olhar perdido para os suspensórios do jovem. Um jovem de suspensórios.

Afogando entre tubarões

Sempre que por algum motivo eu me pego assistindo Shark Tank, fico me perguntando como as pessoas têm coragem de avaliar tão bem suas próprias startups. Faturamentos de 5 mil, vendemos meia dúzia de qualquer coisa, mas valemos 2 milhões de reais.

Eu tenho uma relação de fascínio e dor profunda com esse programa. Ao mesmo tempo que ele demonstra tudo o que há de problemático na mensagem de que parecer é melhor do que ser, ele expõe uma capacidade humana completamente alienígena a mim.

Estou falando de autoestima e percepção de valor próprio.

Nunca fui muito bom nisso. Se tivesse um negócio começando, meu valuation seria que ele estaria fechado por desistência em três meses e eu abraçando meus joelhos.

Minha baixa autoestima já me causou muitos prejuízos ao longo do tempo. Eu já perdi estágio durante a faculdade de design porque fiquei com medo de avaliarem meu portfólio. Eu demorei a mudar de carreira por achar que eu não teria capacidade de fazer o que faço hoje.

Muito pior do que isso! Eu já deixei de comer a pizza que queria por achar que ninguém ia gostar do mesmo sabor que eu. Tem noção do trauma que isso deixa em uma pessoa? Em querer pepperoni e ter que se contentar com portuguesa?

Enfim.

Por muito tempo, pessoas confiantes só pioraram a situação para mim. Ver alguém ter sucesso apenas porque “pareceu ser relevante” é mais cruel do que ver alguém com muito mais talento ou dedicação do que eu. Afinal, eu poderia ter feito alguma coisa a mais. Mais coragem? Mais cara de pau? Isso parece simples, fazível.

Eu sou capaz.

Eu sou.

Sou sim.

Tô te falando.

Eu acho..

Eu sou?

É, talvez eu seja.

Do mesmo jeito que muita coisa acontece na minha cabeça, eu do nada comecei a pensar por um outro lado.

Usando as variáveis certas

Esse processo pelo qual estou passando começou com uma constatação muito simples. Baixa autoestima é o nosso normal. Autoconfiança é uma construção, um papel de teatro que às vezes precisamos sustentar por tempo demais.

Autoestima alta é ficar de pé, mas ficar de pé cansa tanto!

Pensa em ditados que estiveram aí o tempo todo como “a grama do vizinho é sempre mais verde” ou “casa de ferreiro, o espeto é de pau”. Nossa armadilha é sempre criar expectativas que sabemos que não existem e que por isso não alcançaremos. Nosso verdadeiro mindset é aceitar a derrota antes para ela não doer tanto depois.

Quero ver um coach falar isso!

Mas ultimamente tenho tentado me mudar usando um pouco de racionalização. Como eu posso melhorar o valuation da marca Guilherme L. A. Pimenta? Como eu posso fazer um rebranding, um pivoting, um escalation, um refactoring um… sim, agora eu só estou jogando palavras de coach aleatoriamente.

A minha resposta ainda não está completa, mas o caminho deve passar por encontrar variáveis que melhorem a minha fórmula aritmética sem causar muita ansiedade. Valorizar pequenas características, pontos marginais, habilidades distantes que não entraram no meu patrimônio líquido mental.

Por exemplo: eu me considero um bom ouvinte. Por que isso não pode ser uma capacidade que traga tanto faturamento anual quanto ser, sei lá, um bom escritor?

Ah, isso não adianta, nunca me acharei um bom escritor, mas eu gosto do jeito que construo algumas frases. Que tal botar só esse pedaço da variável na conta ao invés de eliminar tudo com medo de um resultado negativo no final?

Aliás, este é outro ponto interessante sobre autoestima, é quase um paradoxo: nós às vezes somos vaidosos demais. A gente se vende mais barato só para vir alguém e dizer “nossa você tá uma barganha!”.

É maravilhosa a sensação mas uma hora ela passa e a sua percepção se torna aquela. Aí, como qualquer droga, você vai atrás de outra dose e se diminui mais ainda.

Daqui a pouco, você se vê vendendo atenção e disposição para outras pessoas tão barato que nem paga o esforço mental e sentimental por trás disso.

Foi essa ideia que se transformou em mais uma das minhas 500 metas para 2020 e em diante. Se eu forçar a mão na minha autoestima, meso contra todos meus instintos, com certeza vão se assustar com o preço inicial. Mas talvez mesmo reduzindo a pedida, eu ainda saia com uma confiança muito maior do que pensava.

Ai, os tubarões estariam tão orgulhosos se me vissem agora…

É, eu sei. Não é tão fácil como falar e eu ainda não consegui. Mas pelo menos tenho uma pista do que fazem pessoas tão ruins serem tão valorizadas. Elas bancam o valor mesmo sem faturamento. Quem sabe dá para usar um pouco desse poder para o bem.

Afinal, o normal é mesmo que a gente se dê menos valor do que tem — se é que é possível calcular o valor de alguém. Que tal tentar por um zero a mais nesse seu valuation? Vai que as pessoas compram mesmo assim.

P.S.: Ao reler o texto notei um tom meio autoajudístico e psicoanalítico. Essa não foi a intenção, eu não tenho formação nem experiência para dar conselhos desse tipo. Então, se der, leve isso apenas como uma experiência compartilhada. É isso que a gente precisa mais: compartilhar todas experiências, não só as boas.



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