Assimetria

— Mas não é possível! Depois desse acesso de raiva explosivamente controlado, ele continuou um tempo parado, com a cabeça levemente pendendo, mão direita segurando o queixo com o braço esquerdo cruzado na frente apoiando. E os olhos fixos, tentando entender. À frente dele, um sofá cinza, um pouco desbotado no pedaço perto da janela. Mas o sofá era tão dispensável à cena que ele nem registrava sua presença. Acima dele estava o motivo de toda sua fúria ardente e contida. O quadro que ganhara da mãe, decorando sozinho a parede. Tinha uma moldura feita para parecer mais chique do que era. Madeira com alguns ornamentos entalhados, tudo pintado com uma tinta que já foi dourado vivo algum dia. O quadro em si era só um quadro desses de feira. Representava uma cidade de interior, com rua de pedra, casas coloniais e uma igreja no morro lá do fundo. A perspectiva estava claramente errada, para quem se desse ao trabalho de olhar por mais de um segundo. Não era feio, nem particularmente bonito. Era...